Genética para correr.

                         A influência de determinados genes sobre o desempenho em atividades atléticas tem sido cada vez mais investigada pelos cientistas. A constituição genética pode determinar se o organismo será mais apto para a realização de atividades de alta intensidade (ex. 100 metros rasos) ou atividades que necessitam de grande produção de força (ex. levantamento de peso). Da mesma forma, o perfil genético também pode favorecer o desempenho em exercícios físicos, que precisam ser sustentados por períodos prolongados (ex. corridas de longa distância).

A constituição genética é uma das explicações plausíveis para diferenças significativas no desempenho esportivo de alguns atletas quando comparados a outros que possuem estímulos ambientais, como dieta e treinamento físico, semelhantes. No entanto, não só atletas são influenciados por fatores genéticos. Todos nós, em algum grau, somos geneticamente favorecidos ou desfavorecidos em relação a um determinado tipo de atividade, e estas diferenças podem ser facilmente observadas. Quem de nós não tem um amigo ou um conhecido que parece fazer muito menos (ou muito mais esforço) que nós para melhorar o desempenho físico, como por exemplo, reduzir o tempo para a realização dos 10km? Algumas pessoas parecem ser muito mais propensas ao sucesso em certos tipos de atividade do que outras, e isto certamente está relacionado ao perfil genético.
Mais de 160 genes relacionados ao desempenho esportivo já foram identificados, dentre eles, merece destaque o gene que codifica o peroxisome proliferator–activated receptor (PPAR) δ. Animais geneticamente modificados em laboratório, que possuíam a forma ativada do PPAR- δ, mostraram uma capacidade incomum de percorrer longas distâncias. Estes “camundongos maratonistas” como foram chamados, correram uma distância duas vezes maior do que a distância percorrida por animais "normais" pertencentes ao grupo controle. Outro gene que também possui influência sobre o desempenho é o gene do PPAR-γ coactivator-1α (PGC-1α). Este gene está relacionado com a produção das mitocôndrias, que são organelas responsáveis pela geração de energia dentro das células. A maior quantidade de mitocôndrias propiciará maior transferência de energia, dessa forma, maximizando o desempenho aeróbio. Diversos estudos envolvendo exercícios físicos, já demonstraram que a ativação deste gene é um fator importante para determinar a performance em atividades de endurance.
           Estes são apenas alguns exemplos que ilustram a influência dos genes sobre as adaptações promovidas pelo exercício e, conseqüentemente, sobre o performance esportiva. O perfil genético pode explicar, pelo menos em parte, as diferenças individuais observadas em relação ao desempenho em várias modalidades esportivas.


Prof. Ms. Marcelo L Leal
Professor de Educação Física - UFES e Mestre em Ciências - ICBUSP

Prof. Dr. Marcelo S. Aoki
Professor da EACH-USP
(Baar 2004; Wang, Zhang et al. 2004; Amir, Amir et al. 2007; Yan 2009)
Referências:
Amir, O., R. Amir, et al. (2007). "The ACE deletion allele is associated with Israeli elite endurance athletes." Exp Physiol 92(5): 881-6.
               
Baar, K. (2004). "Involvement of PPAR gamma co-activator-1, nuclear respiratory factors 1 and 2, and PPAR alpha in the adaptive response to endurance exercise." Proc Nutr Soc 63(2): 269-73.

Wang, Y. X., C. L. Zhang, et al. (2004). "Regulation of muscle fiber type and running endurance by PPARdelta." PLoS Biol 2(10): e294.
               
Yan, Z. (2009). "Exercise, PGC-1alpha, and metabolic adaptation in skeletal muscle." Appl Physiol Nutr Metab 34(3): 424-7.
              
Matéria publicada no site portaldacorrida.com.br

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