>>> Por que é tão difícil reduzir o % de gordura?


                                                                                                                             Atualmente é senso comum que a fórmula para perder peso de forma saudável e sem o uso de medicamentos é fazer dieta + exercícios físicos. Algumas drogas podem acelerar bastante o processo, mas mesmo com o uso dessas substâncias, a recomendação da combinação dieta + exercícios para melhores resultados esta sempre presente.

       Porém, por que a partir de um determinado ponto (geralmente entre 12 e 15 % de gordura em homens e 18 a 22% em mulheres), e obviamente sem o uso de nenhuma substância, o corpo parece dificultar tanto as coisas? Horas e horas de esteira, bicicleta, transport; comendo extremamente pouco, mas a balança quase não se mexe. O corpo simplesmente não responde mais da mesma forma. E pior, alguns músculos parecem ter sumido junto com essa maratona de dieta e aeróbios, na maioria das vezes, desorientada.

     O corpo humano sempre foi um especialista em sobrevivência e desde sua criação, foi programado para sobreviver à condições extremas, como a falta de alimento por exemplo. Desta forma, foi equipado com um estoque de energia de grande capacidade que pode determinar o tempo de sobrevivência (se pensarmos somente em transferência de energia). Portanto, quanto mais  gordura corporal, maior o tempo de sobrevivência em caso de falta de alimento. Isto explica em parte, porque a partir de um determinado ponto, o corpo "luta" contra a perda de algo essencial para vida, sacrificando outros tecidos como os músculos por exemplo, na tentativa de reduzir o gasto desnecessário de energia.

        Mas atualmente, não existe escassez de alimento. Pelo contrário, o que existe é um excesso na oferta e facilidade para nos alimentarmos que de certa forma tornou o acúmulo exagerado desta reserva de energia dispensável. Porém a maioria de nós não se comporta assim e alguns hormônios como a Leptina por exemplo, têm grande influência sobre isto.

       Desde sua descoberta em 1994 por Jeffrey Friedman, a Leptina se tornou alvo de extensivos estudos na área de obesidade e distúrbios metabólicos. A Leptina é um hormônio liberado pelo tecido adiposo, que regula o apetite junto com outros hormônios (ex. insulina; grelina; etc), e sua principal função é inibir o apetite. Por isto, como ela é produzida pelo tecido adiposo, quando perdemos gordura corporal, a produção de Leptina cai, fazendo com que tenhamos mais fome, nos "forçando" a retornar a nossa condição anterior. Quando atendemos a este chamado, a gordura perdida volta ao seu lugar de origem, mais Leptina é produzida e o apetite volta ao "normal".

     Mas você decidiu entrar nesta briga de verdade, então o que deve esperar? Fome, irritabilidade, mal humor, fraqueza; são exemplos do que vai acontecer se decidir prosseguir. Quando diminuimos a quantidade de calorias que ingerimos, na tentativa de reduzir o nosso percentual de gordura a níveis realmente baixos, nosso corpo inicia uma guerra química muito difícil de ser vencida. Neste momento, a Leptina junto com outros hormônios sinalizam a uma região específica do nosso cérebro (hipotálamo) informando que não estamos comendo o suficiente. O cérebro reage e o resultado é a redução de hormônios como os tireoideanos, hormônios sexuais e GH, além de outros efeitos. Tudo para diminuir a perda de gordura, praticamente desligando atividades que possuem um alto custo energético (ex. síntese proteica). Isto também explica em parte, porque perdemos massa muscular quando fazemos dieta.

        Portanto, quando decidir procurar um nutricionista e iniciar uma dieta para quebrar a barreira dos ~12% homens e ~18% mulheres, saiba que seu corpo vai reagir com força contra isto, mas que se você for vencendo as batalhas químicas diárias, terá uma grande satisfação ao perceber que pode fazer o que quiser com seu corpo.


Referência:




Lucassen, E. A., Rother, K. I. and Cizza, G. (2012), Interacting epidemics? Sleep curtailment, insulin resistance, and obesity. Annals of the New York Academy of Sciences, 1264: 110–134. doi: 10.1111/j.1749-6632.2012.06655.x



Nenhum comentário:

Postar um comentário